sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A Biocomplexografia de Donatto Leão - Parte 10

Boa tarde!
O Donatto voltou!!
Abraços
...Amarelo...


Capítulo 10 - A volta dos que não foram

Uma dica: nunca coma peixe sozinho.
Às vezes meu texto pode ser uma utilidade pública. Isto é muito sério!

***

Voltei à minha rotina de sempre: trabalhar e trabalhar. Voltei também para minha casa.
Foi muito bom aproveitar as férias como aproveitei, de um jeito que nunca havia aproveitado. Estava apenas esperando também meus pais e irmãos voltarem de viagem para anunciar que iria ficar uns tempos na casa da minha avó. Claro, obviamente, porque depois do trabalho sairia com o Paco, sempre que desse.
No começo sairíamos menos, até porque ele decidiu ficar no Brasil, sob minha promessa de arrumar um bom emprego para ele em sua área, Informática / Tecnologia da Informação.
Meus pais voltaram, depois de praticamente 1 mês viajando pelo Nordeste. Estavam todos praticamente uns camarões, vermelhos por causa do sol e salgados por causa da água do mar. Mas o importante é que estavam felizes.
- Pai, mãe – disse logo que se acomodaram em casa – vou morar uns tempos com a vó Luzia.
- Como assim? – questionou minha mãe, com correta indagação, até porque nunca passaria pela minha “antiga” cabeça ficar sequer 1 hora lá na casa da minha avó antigamente.
- Porque prometi ao Paco que arrumaria emprego para ele. Então neste tempo que ficar lá vou ver se ajudo.
- Mas mesmo assim não entendi. Está doente? – minha mãe realmente não entendeu a minha intenção. Na verdade, eles sequer imaginavam que eu fui pra “gandaia”, muito menos com o Paco.
Para constar, minha mãe não estava pior que meu pai. Ele ficou uns 10 minutos estático. Não estava entendendo a situação.
- Bom, vou explicar. Nesses 20 dias que vocês ficaram fora, ou seja, desde o dia que fui levá-los ao aeroporto, fiquei na casa da vó e desde então estive por lá. Me tornei amigo do Paco, coisa que eu sei que nunca fui. Mas acho que ambos, ele e eu, melhoraram.
Meus pais ficaram mais pasmos ainda. Mas entenderam a situação. Para eles era coisa de semanas e eu voltaria. Na verdade, eles não ficariam tristes ou coisa do tipo por eu estar saindo, até porque eu tinha uma casa e quase casei. Eles ficaram boquiabertos mais pelo fato da minha mudança repentina de comportamento.
Juntei mais peças de roupa e outros utensílios importantes e fui para a casa da minha avó, onde o quarto de hóspedes seria agora o meu quarto.

***

         Está bem, uma ou outra restrição, se for um sashimi, por exemplo, pode comer sozinho.

***

         No começo foi bem estranho sim, confesso, afinal morar na casa da minha avó e junto com aquele primo que era inacreditavelmente chato (e havia virado inacreditavelmente legal) era realmente algo que nunca passaria na minha cabeça. Mas eu sei, estava passando por constantes mudanças e, também sei, bem “pós-maturas”, se é que existe este termo.
         Mesmo que alguém tente acreditar nisso, não passou pela minha cabeça em momento algum a chance de me consultar em um psicólogo, que aliás sempre foi um trauma particular fazer consulta num desses. Nada contra, mas qualquer ato diferente que fazia em minha vida já vinha minha mãe marcando consulta na Dra. Rosa Brilda.
         Rosa Brilda, oras, quem no inferno tem um nome desses?
         As consultas eram demoradas, perguntas totalmente infundadas, tinha dia que parecia mais nutricionista que psicóloga:
         - Donatto, está comendo bem? Você gosta de maçã? Come com mel e granola, te dá energia e alivia este stress...
         O pior era a voz dela de travesti fanha. Não gosto nem de lembrar. Acho que prefiro lembrar dos chifres que levei da Fátima do que das consultas com a Dra. Rosa.
         Por fim, depois de mais de trinta consultas e (muito!) dinheiro gasto, minha mãe resolveu entender, de fato, que eu era diferente, e contra os fatos, não há argumentos, é ou não é?
         Ela achava que por ser filho dela e de meu pai, que teria que ser imagem e semelhança deles. Até entendo ela hoje em dia, afinal, como seria conceber um filho chegar em casa com revistas de games na mão, cabelo bagunçado, camiseta do Iron Maiden, sendo que minha mãe gostava de Leandro e Leonardo, e meu pai, Bach, Mozart e Villa Lobos. Era de se esperar uma consulta psicológica...

***

         Por que esta insistência com esta dica de utilidade pública?
         Acreditem em mim! Comer peixe é gostoso, mas sozinho não.

***

         Cheguei na casa da minha avó e ela estava toda radiante, como se tivesse de volta o filho dela (pai de Paco), numa versão menos bandida, e isso a deixava nostálgica.
         E ela contou histórias de antes de meu tio Ênio virar “o dono de boca”, conhecer Marjorie e... ah, já contei tudo isso! Enfim, a coitada da minha avó sentia falta, e a minha presença junto com o Paco na casa dela preenchia todos os possíveis vazios que ela tivesse.
         - Poxa, e não é que o cara veio mesmo? – disse Paco, rindo como se estivesse realmente duvidando de minha proposta de morar com ele na casa da D. Luzia.
         - Tenho que trabalhar, mas não vou dispensar o chopp depois das cinco...
         - Se me arrumar um emprego, te pago a primeira rodada toda sexta-feira.
         É, tinha isto. A grana de Paco estava acabando e ele estava sem graça de ficar saindo sem ter como bancar a própria birita.
        
***

         Quando você entrar num restaurante e ver “Pintado na brasa”, vai se lembrar deste capítulo

***

         Era segunda-feira, numa dessas quaisquer que sempre desagradam aos trabalhadores e agradam aos empregadores. Lá vai o agora motivado engenheiro Donatto tentar mudar o mundo (mesmo que seja o próprio mundo) novamente.
         Confesso que o retorno ao trabalho, como acho que já disse isso antes e estou sendo redundante, foi excessivamente chato, depois das férias maravilhosas. Nunca gastei tão pouco dinheiro e me diverti tanto na vida. Frase de um murrinha aficcionado. Mentira! Nunca fui isso. Mas o fato foi consumado.
         Cheguei na empresa, parecia até que a seção onde eu trabalhava estava mais bonita, ou pelo menos mais organizada.
         A Evanete estava com os seios mais redondos, a Lídia mais sorridente, o Walter menos carrancudo... comecei a perceber que às vezes escritores de auto-ajuda tem razão: o mundo só é cinza se nossos olhos enxergarem em preto e branco.
         O dia passou voando, cheio de reuniões, as quais eu desenhei caretas, formas geométricas e letras aleatórias no livro-ata.
         Dizem os estudos que demoramos pelo menos 10 dias depois do retorno das férias para voltarmos ao ritmo normal. Pois é, faltavam nove dias ainda...

***

         Certa vez, aguardando o Paco numa entrevista de emprego, fui a um restaurante almoçar. Ficava em Mogi das Cruzes, aqui perto de São Paulo, mas longe de casa. A fome era tamanha e a espera era doída. Então fui comer.
         No cardápio, em rima: “Pintado na brasa, especial da casa!”, resolvi comer, até porque tenho uma queda por peixe.
         Fui todo cuidadoso ao retirar as espinhas do peixe, monstruoso pousado em meu prato. Porém, meu controle de qualidade não foi bom o suficiente, e um desses espinhos foi parar em minha garganta, e por lá ficou atravessado.
         Comecei a ficar roxo, a passar mal, e, sozinho, para quem iria recorrer?
         Olhei para a mesa, tinha acabado o refrigerante. Tornei o potinho de vinagrete que acompanhava o peixe. Acho que piorou a situação.
         O garçom me viu desesperado, chamou outro cara, enfiaram o dedo na minha goela e tiraram a bendita espinha do peixe.
         Isso meia hora depois.
         Concluindo: nunca coma peixe sozinho. 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Feliz Recomeço de Policarpo Quaresma.

Faltava pouco para a sirene tocar. O suor escorria por sua testa. Cada segundo que passava era mais que uma eternidade.
E ainda dizem que o tempo não é relativo. Oras bolas! Para ele, o tempo era tudo, menos absoluto!
            E pensar que ele tinha um futuro tão promissor, curso técnico, fazendo faculdade, que claro, depois de entrar ali, teve que trancar. O momento poderia ser agora.
            Passaram-se treze anos desde então, e ele entrou e acomodou-se. Todo aquele potencial ficou intrínseco e introvertido, visto as ameaças dos companheiros e subordinação de seus superiores, invejosos com seu talento, impiedosos com sua calma e honestidade. Ele não deveria suportar tudo aquilo, não foi para isso que ele veio ao mundo, mas precisava estar ali, então se calava.
            Dentro de algumas frações do tempo ele sairia, para nunca mais voltar. Já era fato, e sem jeito algum de voltar atrás.
            Mas depois de todo esse tempo, será que o mercado ainda estaria aquecido? Será que, mesmo com todas as qualificações e carta de recomendações de seus superiores, que vieram juntas com milhões de desculpas dos mesmos, ele conseguiria algo melhor do que sua vida atual?
            E ele estava ali, conversando com o porteiro do local, aguardando a bendita sirene tocar. Seria o horário de saída.
O sinal toca, hora de partir!
            O porteiro dá-lhe um abraço dizendo “É meu amigo, isso aqui nunca foi seu lugar! Vá com Deus!”.
            O sentimento de liberdade lhe causava fobia, como uma droga entrando pelos canais sanguíneos. Mas ele finalmente saiu.
            “Treze anos, treze anos!” – ele repetia como se este tempo que passou fosse uma página virada, que até deixarão lembranças. O aprendizado foi dado, muita coisa entendida, muita coisa para ser esquecida.
            No começo não acreditavam no grande potencial dele, nem ele mesmo acreditava, e o tempo passou. Treze anos depois, quando ele deu o primeiro passo fora dali, que tudo ficou claro: ele se sentia renovado, e o passado, logo atrás dele, com certeza, sentirá saudades. Mas ele não quer sentir saudades, ele quer esquecer este corrosivo passado.
De fato, ele quer lembrar onde estava há treze anos atrás, para recomeçar, do zero, os anos que passou ali.
            A justiça tarda mas não falha e o verdadeiro assassino, ao morrer treze anos depois, confessou o crime aos risos, e ele, totalmente inocente, passou treze anos encarcerado, aprendendo a lição, que ele nunca precisaria, de um outro qualquer.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Boa semana

Final feliz
(By myself)


A vida alcança
Um ritmo frenético
Que se cansa
Mas não pode parar
É quando a dança
Fica com passos apertados
E a gente se lança
Sem dor nos dedos machucados
Porque o que vale é seguir
Até que o final seja vitória
E na hora de partir
Tenhamos uma vida de glória!


Obs.: Ficou realmente parecendo narração da propaganda do Johnnie Walker, mas não foi plágio, eu juro! hahahaha


Amarelo

domingo, 3 de outubro de 2010

A boa do dia

Desculpem o sumiço (época de "trombas d'água de provas") mas hoje eu tive que postar. Aconteceu um fato engraçadíssimo na fila de um supermercado, o qual eu tive que relatar a vocês.

Estava eu, feliz na fila do caixa de um supermercado, e na minha frente havia um senhor, maltrapilho, mas não totalmente mulambo (daqueles pingaiadas que tem casa, mas andam mulambos, mas não chegava a ser mendigo, não!) e ele estava com um saco com carne dentro em uma mão e na outra um tonel, daqueles de 1L, de cachaça (caninha, pinga, aguardente, mijo quente, ...).

Pois bem, quando ele foi passar no caixa que eu reparei que ele era o bêbado mais inteligente do mundo: ESTAVA COMPRANDO A CACHAÇA E 1 KG DE FÍGADO TAMBÉM!

HAHAHAHAHAHA

Abraço.
Amarelo

sábado, 11 de setembro de 2010

Mais um Blog!

Grandes amigos que passam sempre, passam de vez em quando ou passaram neste momento.


Venho anunciá-los que, dentre algumas histórias reais que venho recolhendo, dentre outras que tenho guardado mas a "censura" e o tema original de meu querido blog Opinião Amarela vem me vetando a postar aqui, informo que criarei, dentre poucos dias, um novo blog, "filial" deste, a fim de colocar histórias (verdadeiras ou não, e isso será informado) sobre fatos engraçados da vida, sob um outro ponto de vista.


O que falta para a criação? Ah, o nome.
Tentei Vaca Amarela, mas não deu. Tentei Deu Merda, também não deu. Estou tentando, tenho uns 3 ou 4 nomes em mente que foram aceitos, vou analisar.


Por que criar outro, se este mesmo as vezes fica largado?
Ah, porque tenho amigos que entram aqui e não querem ler palavrões ou histórias que não dizem respeito a este blog, como disse, que tem um intuito totalmente diferente. No outro, geralmente serão histórias engraçadas, descritas "na real", na íntegra, textos originais sem quaisquer edições.


Agora peço, meus amigos, o que acham da idéia?
Se eu me desmotivar, mando as histórias via e-mail dos interessados, hehehe
Mas ainda acho a idéia do blog "filial" como uma grande e amarela idéia.


E juro, para quem está pouco se ferrando para palavrões, besteiras e quer mesmo é rir, uma mistura entre o Opinião Amarela e o outro blog será bem vinda!


Abraços
Amarelo, o de sempre, sim.


"Se no mundo houver hipocrisia,
Brincaremos com a mentira.
Riremos dos outros em demasia,
E aceitaremos no poder qualquer traíra."


(Concluindo: Votem em quem quiserem, pois o país só muda com a gente. Políticos só são nossos porta-vozes! Mas, por favor, pelo menos votemos em alguém com nível superior... Dá vontade de rasgar o currículo as vezes...)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tempo certo de acordar

Passei numa avenida, margeando o rio que corta minha cidade.
Há alguns anos, milhares e milhares de garças faziam ninho naquelas árvores, ali, às margens do rio.
A garça, por sinal, é o símbolo desta cidade que eu moro, inclusive na bandeira três finas garças sobrevoam a parte azul, simbolizando talvez o céu.
O problema é o seguinte: alguns moradores dali estavam ficando incomodados com o cheiro das fezes das garças, e portanto, a prefeitura num gesto "cívico" cortou algumas árvores, fazendo com que as garças mudassem de lado do rio.
Pois é, donas do lugar bem antes destes moradores, tiveram que sair, como se diz, pela porta dos fundos!


Eu não sei onde vamos parar. Só sei que do jeito que está, não temos muita chance não, e acho que não são nossos filhos nem netos que vão sofrer: nós já estamos sofrendo muito.
Quem tem alergia, como eu, sabe do que estou falando.


Três meses sem chover, que caos, meu nariz mal desentupe já entupe de novo! E o dia inteiro aquele cheiro desagradável de fumaça! Paira no ar, não tem como fugir!


Precisamos cantar em volta da fogueira clamando por chuva, porque só isso para baixar esses poluentes que estão nos enchendo a paciência!!!


Quando vamos mudar? É tarde?


Bom, minha avó, ontem, conversando comigo quando fui buscá-la no cinema me disse que nunca é tarde para nada! Sempre dá tempo. Ela disse isso porque justo nesse dia ela tinha ido ao cinema com uma amiga, uma senhora que das pessoas que eu conheço é com certeza a mais feliz e sorridente.
Ela e minha avó já beiram os 80 anos, e ficaram amigas aos 70, porque ela é avó de um amigo de jardim de infância do meu irmão (na época que meu irmão era menor que eu!!!).


Minha avó me disse que, com essa idade, encontrou a melhor amiga de toda a vida. Isso é mais difícil acontecer que pararmos para pensar e fecharmos a torneira, desligarmos a luz quando desnecessária, jogarmos o lixo corretamente e separarmos o reciclável, entre outras coisas.


Porque para falar a verdade, não adianta. Quando a natureza quer, ela se vinga, e tudo volta ao normal...


E as garças?
Ah, elas não moram mais lá. Como eu disse, mudaram de margem do rio.
Mas na revoada normal das seis da tarde, elas passam próximas àquelas casas (que as expulsaram de lá) e deixam algumas toneladas de cocô....


Boa semana.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dias atrás...

O poema que prometi fica para a próxima.
A postagem de hoje será uma homenagem diferente. Hoje é aniversário do meu avô, ele completa 81 anos, ou seja, ele nasceu em 1929.

Eu tenho 24 anos, nascido em 1986.
O que será que meu avô vivenciou no mundo quando tinha minha idade?

O ano era 1953...

E a Volkswagen vem para o Brasil...
A Rede Record, primeira rede de TV com equipamentos e funcionários inteiramente nacional entra no ar...
É criada a maior empresa do Brasil (entre as maiores da América Latina, a maior no que diz respeito lucros), a "desconhecida" Petróleo do Brasil S.A., ou Petrobrás...
Fim da Guerra da Coréia (o fim foi naquele ano, sim, mas ainda não descobriram...)...
Morreu Josef Stalin, grande líder Soviético...
Francis Crick e James Watson descrevem a estrutura helicoidal do DNA (isso, tudo teve um início...)...
Estréia no cinema a primeira (e melhor) versão de "A Guerra dos Mundos", de Byron Haski... e a primeira versão (e tão ruim quanto a última) de Titanic, de Jean Negulesco...
Neste ano o São Paulo Futebol Clube, time de coração do meu avô (aliás, de toda a família) consagra-se campeão estadual...

Enfim, o tempo passa rápido demais. E como me disse hoje meu avô, 81 anos foram, na verdade, 81 dias.

Felicidades, Cury.
Te amo

sábado, 21 de agosto de 2010

Brincadeira, viu?!

Estou revoltado, pra caramba!


Tinha escrito um poema para postar, já faz 1 semana que venho enrolando para colocá-lo aqui, como se fosse uma imensa dificuldade digitá-lo e clicar em PUBLICAR POSTAGEM.


Pois bem, enrolei tanto que agora está tudo enrolado mesmo! Não sei aonde eu o escrevi, sei que em algum caderno. Como tenho pelo menos uns 4 cadernos com umas 200 folhas, vou ter que procurar, daí mais uns dias se enrolarão.


"Sol, qual foi o meu pecado
Se aqui onde estou não te vejo brilhar?
Te liguei tantas vezes, te deixei uns dois recados
Espero que um dia possa te  reencontrar"


Só pra não passar em branco...


P.S.: Assistam Invictus (o personagem principal nos faz crer que sim, tem gente no mundo que ama o próximo).

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"O Sistema é mal, mas minha turma é legal."

Um dia desses pensei, ao passar próximo a um posto de combustível, que um “quase” economista prestes a se formar na faculdade ou precisando de algum tema para um mestrado ou doutorado se deliciaria estudando sobre a variação totalmente alucinada do preço do etanol. O que é isso?
Tem dias que o preço amanhece a R$1,00, a tarde almoçamos com ele a R$1,20 e vamos dormir com ele a R$1,49.
Quem vai estudar isso a fundo? Será que ninguém é curioso o suficiente? A culpa é sempre da tal “entressafra”. Que merda é essa?
Essa tal entressafra é, por fim, então, “infra-safra”, entressafra, “ultra-safra”. Porque sempre acontece isso e a desculpa é a mesma!
Eu queria saber de tudo, sei lá, não ser só um engenheiro mecânico. Queria ser tudo mesmo, ou pelo menos saber tudo pra poder questionar.
Estou cansado também deste sensacionalismo, deste sentimentalismo e de todo mundo que acha que tem que lutar por um ideal simplesmente para aparecer na capa da veja, de repente levar um ou dois tiros de bala de borracha, ou uma ou outra coronhada, aparecer no YouTube ou no noticiário do Datena, ou receber vários tweets. E o povo dizendo: “Esse é da causa!”.
Toda manifestação é válida e necessária, mas cá entre nós: o que não vale é hipocrisia, falsidade, “oba-oba”.
O pior de tudo é um cidadão qualquer, como você ou eu, que de repente prefere ficar de fora da manifestação, porque, sei lá, de repente não quer ser hipócrita e fingir que acha a causa da luta válida e que é do “povão”, quando na verdade não acredita.
Até aquele exemplo, que pode ser próprio também, do “tal” do socialismo. Eu sempre quis ser socialista, lia Marx e, na teoria, no papel, ele realmente filosofou um sistema de governo que seria o perfeito, mas na prática, sei lá. Esse sistema precisava de muita gente humana.
Eu ficava com aquela estrela alvi-rubro no peito achando que PT e o Lula iriam resolver todos os problemas “socialisticamente”, será?
Coisas de adolescente. É legal ser diferente. Ser socialista é ser diferente. Aí hoje eu tenho questionado esse meu “eu adolescente”: quer ser socialista? Vai viver em Cuba, mas na parte pobre de Cuba. Vai viver na Coréia do Norte, será?
É Tudo a mesma coisa. Esse ímpeto de querer ser diferente, se sobressair não nos faz pensar. Hoje eu penso, e penso muito, será mesmo que eu quero ou tive um dia vontade de ser socialista, não na teoria, mas na prática? Ter que fazer meu trabalho pensando no coletivo, não em meu lucro próprio. Deixar meus filhos estudarem em uma (boa?) escola pública, afinal, ser particular o nome já diz, não é pra todos.
Não adianta, no fundo esse meu “eu adolescente” se acostumou com o Capitalismo, afinal é bom ter um notebook HP, um iPod nano e um X-Box 360, mesmo que meu vizinho não tenha. Azar dele. Eu trabalho pra caramba, por isso eu tenho. Mas eu sei que tem gente que trabalha mais que eu, ganha menos, mas fazer o que? Azar dele.
Em teoria um médico teria a mesma utilidade que um lixeiro. Mas não, o médico tem que ganhar mais, ele salva vidas. Pois bem, fica 1 mês sem gari nas ruas. Fica...
Eu quero ser humano, eu quero ser bom, e sei que sou melhor que muita gente, mais caridoso que muita gente. Mas falta muito, mas muito mesmo, para eu ser humano, humano de verdade
Assim como diz meu amigo Augusto, em seu excelente blog, tem gente que prefere um copinho americano de pinga para esquecer que é humano, do que ter que partilhar um frango assado com um ilustre desconhecido.

Desabafo? Não.
“É a vida, e é bonita, e é bonita”
Às vezes é bom olhar o pôr do sol, e esquecer de tudo isso.

domingo, 1 de agosto de 2010

Providências

Ultimamente tenho pensado muito. Não que antes eu não pensasse. É que às vezes eu penso muito, mas penso inutilmente. Ultimamente, não, tenho pensado no mundo, nele e em cada um.
Muitas catástrofes, corrupções, assassinatos, dentre outros males, e penso se é realmente correto deixar algum herdeiro, sabendo que este vai sofrer com esta "selva de pedra".
É bom ter um filho, um legado, a manutenção do sobrenome, mas, será que o mundo vai estar habitável daqui a uns 20 ou 30 anos?
Então andei pensando... e concluí que vale a pena tentar.
Se 8 em cada 10 são corruptíveis, vale a pena torcer pelos 2 honestos...
Se 7 em cada 10 são assassinos, ladrões ou estupradores, vale a pena torcer pelos 3 corretos...
Se ao invés de baixar a cabeça e chorar, achando que o mundo vai acabar com uma imensa labareda de fogo e então não vale a pena nossos esforços, nós nos unirmos e salvarmos o que há de bom nesse mundo, com certeza esse mundo vai se transformar.

Afinal, a lagarta ridícula vira uma bela borboleta. A natureza já faz a parte dela.
Vamos tomar agora nossas providências.

E o mundo evolui sim, e nós evoluímos também.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pensamentos de Donatto Leão (Oh, ele pensa!)


21-08-2014 - São Paulo/SP

"Podemos comparar a vida como um barco Viking em um  parque de diversões:
Se sentarmos nos cantos, independente de qual canto, nos arriscaremos, dá aquela pretensiosa adrenalina em nossas espinhas, nos divertimos. Mesmo que dê medo no início, mesmo que o risco, por mais calculado, seja de dar certo (o medo passar e a gente curtir) ou de dar errado (nos agarrarmos na cadeira e esperar tudo aquilo passar o mais rápido que der).
Se sentarmos no meio, teremos menos adrenalina e menos perigos, a vida vai passar sem graça, e ainda há o risco daqueles que viverem intensamente vomitar sobre nossas cabeças.
Eu vou ficar em um dos cantos, já garanti minha cadeira, e você?"
..::Don::..

sexta-feira, 26 de março de 2010

A Biocomplexografia de Donatto Leão - Parte 9

Olá pessoas! Cá estou com mais uma continuação.
Boa semana amarelada a todos.

Capítulo 9 – Sobre Vivência


.   Levantei da mesa, confesso um pouco tonto. A história do meu problemático primo parecia o filme Cidade de Deus. Imagino até os “manos” do meu tio falando coisas do tipo “Có é, muleque? A treta é chique?” e coisas do tipo.
.   Me arrumei bem rápido, porque não estava preparado para ver o Paco depois da história que minha avó contou. Entrei no carro e fui para minha casa, pegar uma quantidade de roupa para uns 20 dias, meu notebook, minhas bugigangas necessárias e ficar uns 20 ou 30 minutos sozinho, olhando para o quadro da sala, tentando me concentrar para a história parar de martelar na minha cabeça. Acho que o medo de falar com o Paco seria mais de dó do que de outra coisa. Parecia que eu havia invadido uma privacidade oculta, sei lá. Do jeito que sou uma besta, provavelmente escaparia um ou outro comentário a respeito da história em algum momento em que estivéssemos conversando.
.   Mas quer saber? Eu voltei pra casa da minha avó, antes mesmo de ficar vinte minutos a frente do espelho. Eu não seria tão idiota de ficar comentando e meu primo já era grande o suficiente para entender do assunto, caso viesse à tona.

***


.   Era domingo, dia 26 de Setembro, já estava há uma semana e meia na casa da minha avó.
.   Paco, eu e as nossas novas companheiras de balada tínhamos ido na noite anterior numa festa em Barueri, próximo de São Paulo, dentro do residencial Alphaville. Nunca vi tantos reais por metro quadrado espalhados em tijolos, telhas, jardins e cachorros.
.   Como de costume, em uma semana seguida, inclusive após um funeral, bebemos demais. Até a Paula, que havia acabado de perder o pai, já estava melhorzinha.
.   Era mais ou menos umas 8 horas da manhã, quando meu avô abre a porta do “meu” quarto de visitas dizendo:
.   - Vamos logo, senão fica tarde para voltar! Vamos logo, o sol já raiou e estou pronto!
.   Tomei um susto breve, não entendendo nada da situação. Para falar a verdade, não lembrava nem quem era eu, ou o que era eu naquele momento. .   Estava “cozido”, estragado.
.   - Vamos Donatto, sua avó já preparou o café!
.   - Vô, disse todo sonolento, domingo é dia de almoçar no café da manhã, não é?
.   - Sim, eu sei, mas você combinou e vai ter que cumprir. Afinal faz tempo que eu não vou lá, porque sua avó não me deixa dirigir por uma distância maior que o supermercado e que a farmácia, ambos dentro de nosso bairro!
.   - Ta bom, vô, mas não estou entenden... – foi quando eu me lembrei: havia combinado com meu avô Jorge que iríamos pescar numa região próxima à represa Billings, ali nas proximidades de Ribeirão Pires, ou seja, longe pra caramba!
.   Combinei este passeio porque havia visto na previsão do tempo que iria chover o dia todo no domingo, e meu avô não gosta de tomar chuva. Como sempre, devo admitir que estas previsões do tempo são todas furadas! Só me ferram!
.   O melhor é que o Paco também tinha ido na corda, e falou que iria pescar também.
.   Não tínhamos nada contra pescaria, mas tínhamos tudo contra o meu avô pescando! As poucas vezes em que nos arriscamos acompanhá-lo em uma pescaria, não deu certo.
.   Para o Paco era a primeira vez pescando com meu avô, afinal ele nunca foi a uma pescaria em outros tempos, era rebelde de mais para aceitar um convite como esse. Eu já tinha ido umas 4 ou 5 vezes, me arrependendo umas 4 ou 5 vezes depois. Mas dessa vez seria inédito: iria pescar com sono e ressaca.
.   Era de se esperar que o Paco estivesse com um mau-humor violento, daqueles de nos deixar desgostosos da vida. E ele não estava. É claro, ele não sabia o que estaria por vir. Eu sabia, e estava totalmente apático, quase hepático.

***


.   A pequena viagem por dentro de São Paulo até que não foi tão longa, até porque nos finais de semana, sem trânsito, a cidade encolhe, fica tudo tão mais perto!
.   Quanto mais perto do pesqueiro chegávamos, mais nervoso eu ficava. Paco estava dirigindo, meu avô no banco da frente da sua Grand Cherokee e eu no banco de trás, morrendo de sono mas não conseguindo dormir de tensão.
.   Chegamos ao local, preparamos as varas, pegamos no porta-malas aquela caixa de ferramenta adaptada para pesca, com iscas, anzóis, chumbinhos e bóias reservas. Meu avô sentou no quiosque onde ele costumeiramente ficava, numa pequena ilha artificial que ficava ao centro da maior das três lagoas do pesqueiro. Abriu uma latinha de cerveja, colocou isca no anzol e arremessou a linha na água.
.   Logo depois eu pensei: “Agora começa a festa!”, dei uma risada silenciosa e pensei que por pior que fosse essa pescaria, deveria levar tudo na risada.
Paco se ajeitou justamente próximo ao eu avô e me chamou para ir junto. Com toda a minha experiência em pescaria a La Jorge, sentei-me o mais longe o possível, mas não tão longe assim para não fazer desfeita.
.   Uns 10 minutos depois, meu avô tirou o anzol da água e nada. Os peixes petiscaram sem abocanhar.
.   - Começou a palhaçada! – gritou meu avô, colocando outra isca na água.
.   Não passaram 10 minutos e ele já tirou o anzol da água e de novo os peixes petiscaram a isca sem abocanhar o anzol.
.   - Puta merda! – meu avô levantou, deu um grito de raiva e foi para o outro lado da ilhota.
.   - Vô, não faz meia hora que estamos aqui! – disse Paco vendo a cena desconfortante de nosso avô gritando e espantando tudo quanto é ser vivo de perto da ilhota – pescaria é assim mesmo...
.   - E o que você sabe de pesca? Caçarola... Se não tem peixe aqui, eu tenho que mudar de lado.
.   Paco começou a perceber a enrascada que era ficar ali perto: ele não pescaria nada por causa da barulheira e ainda iria levar xingo a cada “não pescada” do vô Jorge.
.   Meia hora depois, peguei meu primeiro peixe. Depois vieram mais quatro.
.   Paco pescou um apenas, devido às condições do ambiente onde ele estava: muito barulhento, agitado e nervoso.
.   Por estes (e somente estes) motivos, meu avô pescou sim, um único e mirrado peixinho. Ele ficou doido, mas ficou calmo depois pelo simples fato de ter pescado. Na hora de irmos embora, ele como costumeiramente faz comprou um peixe, enorme, e levou para casa.
.   Chegando lá foi todo feliz e orgulhoso levar o peixe para minha avó ver:
.   - Olha querida, o peixão que pesquei hoje! Esse é dos bons!
.   - Nossa Jorge, este dá gosto de preparar. A gente come no jantar, se der tempo de temperarmos.
.   Olhei para a cara da minha avó, esperei meu avô sair de perto e comentei com um pouco de desdém:
.   - Ele comprou este peixe, não parava impaciente em nenhum lugar, fazia barulho e acabou não pescando quase nada.
.   - Eu sei que ele comprou – disse minha avó com uma voz meiga – mas ele não precisa saber que eu sei, na verdade, que ele sempre comprou o peixe quando não pescou nenhum. Mas para que magoá-lo? Quando a gente ama é assim. Se ele faz isso pra me impressionar, quer dizer que ele quer meu bem, mesmo 50 anos depois.
.   Não preciso dizer que depois dessa enfiei meu rabo entre as pernas, fui para o quarto refletir e talvez, quem sabe, marcar pescaria de novo daqui a alguns dias.
.   Eu até toparia pescar de novo, mas o Paco ficou traumatizado, acho que ele prefere jogar golfe.

sábado, 6 de março de 2010

A Biocomplexografia de Donatto Leão - Parte 8

Olá!
Enfim consegui 2 postagens consecutivas...foi um árduo trabalho, mas cá estou!

Abraços amarelos a todos!!!

Capítulo 8 – Paco

. Naquela manhã minha avó contou muita coisa que eu não sabia, ou sabia menos da metade do assunto, ou melhor ainda, sabia por metáforas.
Paco era sobrinho único da minha mãe, que só tinha um irmão mais velho, o tio Ênio. Este meu tio era completamente louco. Não natural, ou seja, ele não nasceu louco, ele ficava louco porque queria. Vou explicar.
. Nós, seres humanos, podemos ser normais se quisermos e se nascermos com a mente saudável. Basta não usar drogas. Agora ficou mais claro?
. A vida do meu tio Ênio, desde pequeno, foi pagode no gueto, cachaça, cigarro, maconha e mulherada. Até que ele conheceu o pior de seus companheiros de loucura: o crack.
. No começo, dizia a minha avó, ele era um mero usuário, trabalhava e gastava tudo, claro, com mulheres, bebida e drogas.
. Passado alguns anos, veio o desemprego. Começou a faltar, perder a hora e o chefe, Sr. Ricardo Medeiros, um homem de muito bom coração, resolveu até ajudar: não queria mandá-lo embora, e ofereceu internação em uma clínica de tratamento, mas meu tio, totalmente louco, chegou ao ponto de brigar com o Sr. Ricardo, dizendo que ele insinuou que o tio Ênio era louco e precisava de tratamento. O Sr. Ricardo estava certo, ficou possesso e mandou meu tio catar lata na rua. Ele foi mesmo, na verdade ele foi arrumar um emprego na sua área.
. Como ele era um cliente assíduo de um dono de boca, um tal de Goré, este ofereceu um cargo de confiança ao tio Ênio e cedeu uma parte da região onde ele tomava conta, para que meu tio fosse como um vice-presidente do tráfico na região. O tio Ênio começou a ganhar respeito dos traficantes e usuários, e com isso veio o dinheiro e muita, mas muita ganância.
. Nessa época ele conheceu a Marjorie. Ah, Marjorie é o nome (será?) da minha suposta tia, mãe de Paco.
. Marjorie, pelas poucas fotos que minha avó me mostrou, era uma mulher estonteantemente linda (fato o qual meu primo sempre foi, digamos, bem apessoado) e claro muito interessada na grana e na fama de meu tio. Foi o que aconteceu.
. O tio Ênio se apaixonou por ela, e ela totalmente esperta aplicou o tão especial, espetacular e fulminante golpe da barriga. Engravidou.
. Quando o filho nasceu, eles foram morar juntos, e claro, a tal da Marjorie não estava nem aí para a criança. Meu tio tinha dinheiro, eles tinham uma babá e uma enfermeira, tudo do gueto.
. Passado 1 ou 2 anos, meu tio já estava famoso na cidade inteira de São Paulo, porque ele podia ser um viciado, traficante e louco, mas era muito inteligente, e utilizava muito bem esta inteligência para arrumar contatos na Colômbia e em outros países exportadores de crack, cocaína entre outras drogras. Goré começou a perder seu poder.
. Certo dia, Buiú, homem de “confiança” do meu tio Ênio, foi chamado pelo Goré. Por mais que meu tio estivesse com poder praticamente igual ao do Goré, ele ainda era subalterno, então Buiú acatou a ordem e foi conversar com o chefão.
. Chegando lá, Goré fez uma proposta para ele:
. - Buiú, se você estourar os miolos do Ênio, as “boca” dele vão ser suas! Topa?
. - Mas ele é meu chefia, como vou fazer isso? E se os “gambé” me pegar?
. - Nenhum “puliça” vai te pegar, Buiú! E seu chefia é um canalha! Você vai ser o chefia, mas estoura os miolo dele, cumpadi!
. Buiú titubeou um pouco, mas resolveu então falar com meu tio a respeito, e ver se conseguia uma “contraproposta” maior.
. Chegando lá, Buiú contou a história para meu tio que, maluco, atirou em Buiú achando que ele era comparsa do Goré, o que na verdade era o contrário, o coitado do Buiú foi apenas avisar. O erro do meu tio foi achar que tinha matado o Buiú, mas não o matou.
. Alguns meses se passaram e o Buiú, que estava foragido, voltou, armado até os dentes e metralhou meu tio, de tamanha crueldade que a perícia demorou algum tempo para descobrir de quem era o cadáver.
. Marjorie, desesperada e com um filho de 3 anos que ela não ligava para cuidar, resolveu aceitar a proposta de Buiú: ficava com ele, e largava o filho com a avó.
. Foi isso que ela fez.
. Numa manhã de terça-feira, meu avô saiu na garagem para pegar o jornal, quando viu o pequeno Paco chorando, sentado no canto da garagem, com uma malinha de roupas, alguns brinquedos e muita desilusão.
. Os olhos de meu avô, segundo minha avó contou, se encheram de lágrimas. Foi a primeira e única vez até então que ela tinha visto meu avô chorar. Eles não viam o menino há uns 2 anos.
. Desde então Paco foi morar com eles. Para sorte dele e inveja minha e de meus irmãos, ele sempre teve tudo do bom e do melhor lá, e isso era em nossa cabeça o motivo dele ser tão rebelde. Nada rebelde agora, a meu ver, para um menino que viu o pai sendo metralhado e a mãe se prostituindo para o próprio cara que tinha matado seu pai. Na frente dele!
. Meu tio podia ter sua insanidade particular, mas ele amava o filho, o defendia até da própria mãe! Paco, ainda criança, passou meses esperando pelo retorno do pai.
. Minha avó ainda contou que a Marjorie, desgraçada, ligava vez ou outra pedindo dinheiro, ameaçando levar o próprio filho caso eles não depositassem. Uma vez minha mãe, quando descobriu esta sacanagem, tentou intervir e no outro dia a bonita estava na porta da casa da minha avó, com uma arma no punho.
. Resolveram pagar a “fiança”.
. Quando Paco tinha cerca de 8 anos, a mãe dele parou de perturbar, do nada.

. ***

. Paco cresceu rebelde, e mesmo que não lembrasse ou soubesse por quê, o choque que tinha recebido quando criança mexeu com seu psicológico.
. Certa vez ele ganhou um cachorro de meu avô, que no outro dia estava morto, envenenado. Paco então começou a fazer tratamento psicológico, e melhorou um pouco, mas continuava com algo dentro dele, que ele não sabia o que era, mas o incomodava.
. Ele foi expulso de pelo menos umas 15 escolas, e não é absurdo ou exagero. Quando não era por briga, era alguma bomba de gás que ele colocava no banheiro feminino, super bonder na cadeira do professor, insinuações sensuais com as meninas (tipo, fazer striptease no pátio da escola no meio da noite para três meninas indecentes) dentre outras “artes”. Por isso não fez amigos, pois ficava pouco tempo nas escolas, fora que era excluído da “galerinha legal”.
. Se formou em um colégio pulgueiro, no subúrbio, o único que aceitou sua ficha “criminal escolar”. O colégio era ruim, a sorte de Paco é que ele puxou a inteligência do pai e conseguiu passar em um concurso público. Juntou um dinheiro, porque meu avô prometeu pagar metade de uma viagem ao exterior para ele se, como vocês já desconfiam, Paco pagasse a outra metade, fruto de seu “juízo”.
. Juízo ele não tinha, pelo menos é o que a gente imaginava. Mas ele conseguiu dinheiro, viajou para a Europa, com 20 anos. Trabalhou lá até que a recessão chegou e ele foi dispensado.
. Aos 27, como vocês sabem, ele voltou ao Brasil, com vários propósitos: o principal deles, me desvirtuar, ou me ensinar a viver.

. ***

. Minha avó tinha me contado toda essa história, e confesso que depois disso, comecei a ver meu primo com outros olhos, além daquele cara boa pinta, folgado e relaxadão.
. Não consegui tirar de minha avó o real motivo dele ter deixado a Europa e também achei um pouco antiético perguntar a ele, mas uma coisa é fato: ele não tinha sido dispensado, estava com uma boa quantidade de euros no bolso, mas mesmo assim voltou. Na minha opinião, ele sentia saudades daqui, contanto não dizendo isso claramente e, também acho que ele queria de certa forma consertar (de um jeito particular) as sacanagens que ele fez com algumas pessoas, como comigo, por exemplo.

Capítulo Bônus 1 – Doação de sangue

. Alguém deve ter perguntado, porque eu perguntaria: e a Marjorie?
. Depois que passou a viver com o Buiú ocorreu o seguinte: Goré, com medo de outra traição matou Marjorie, e Buiú ficou louco e matou Goré. Depois de uns meses, Silas matou Buiú.
. Quem é Silas?
. Não sei.
. Não me façam perguntas difíceis.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Biocomplexografia de Donatto Leão - Parte 7

Capítulo 7 – E a vida continua!

. Já passava do horário do jantar, meus avós assistiam a novela das oito. O legal é que meu avô Paulo sempre dizia que não gostava nem um pouco de novela, e que a antecessora sempre seria a última... Pois bem, lá estavam os dois assistindo aos capítulos emocionantes da trama.
. Quando a novela das oito começa, como sabemos, já passou das nove. E eu estava apreensivo. Como um idiota apreensivo.
. Por que eu era um idiota e não ouvia o meu primo?
. - Don, dizia ele, não vai se apegar na primeira que você beijar, o mundo não vai acabar amanhã... Somente em 2012, segundo os Maias!
. E advinha? Fiquei a tarde toda esperando a Fabíola ligar.
. Ah, sim, ela ligou. Como eu era idiota, e momentos idiotas nós guardamos em nossa memória, igualzinho a musica ruim, eu me lembro do horário que ela ligou: 21h33min. E eu custei a atender. Na verdade, quem abriu o flip do celular e o colocou em meu ouvido foi o Paco, dizendo:
. - Larga de ser bocó, caramba! – depois cochichou – marca algo, mas olha, SEM COMPROMISSO!
. “Oi Fabí, tudo bom?”
. “Sim, estou bem, e você?”
. “Melhor agora, hehehe”
. - Caraca, essa foi péssima! – cochichou o Paco que estava do meu lado.
. “Então, Don, o pai da Paula faleceu, e como eu achei que a gente podia sair hoje que é sábado ainda... bem, difícil né? Vou lá ao velório.”
. “Nossa Fabi, que chato isso né? Ela deve estar mal!”
. “É sim, era muito ligada ao pai, mas eu vou dar uma passadinha no velório e acompanhar o enterro depois.”
. “Ah, que horas vai ser?”
. - Diga a ela que vamos sim! Já vou ligar para a Rafa! – Disse Paco, besta, achando que ela estava marcando algo pra gente fazer.
. “Já estão velando o corpo, no Velório do Ibirapuera”
. “Ah, então, o Paco e eu vamos com vocês. As meninas vão todas?”
. “Que lindo de vocês, nos conheceram ontem, e já estão assim, tão solidários!”
. “Nos vemos lá, beijo!”
. “Tchau Don! Beijo, lindo!”
. - Aonde vamos, qual a balada, Don? – disse Paco, quase se arrumando já pra sair.
. - Programão: vamos a um velório.
. - Ãh?
. Paco fez pressão na hora errada, eu cedi às suas pressões na hora errada, e enfim fomos a um encontro romanticíssimo em um velório, de um cara que nós nunca conhecemos, de uma família que sequer sabemos o sobrenome, e o pior, do outro lado da cidade!

***

. Chegamos lá no velório, e vou ser sincero, fiquei surpreso: a família da Paula não era rica, era bilionária! Tinham tantos carros importados naquele lugar que eu acreditei estar em uma premiação do Oscar.
. Dentro, no salão onde se velava o corpo, várias pessoas da alta sociedade de São Paulo, inclusive o prefeito da cidade e alguns vereadores que eu me lembrava do rosto por causa daquelas campanhas políticas ridículas que passavam na televisão.
. Quando olhamos para o lado, estavam as três amigas sentadas, e a Paula estava próximo ao caixão. Fomos ver então as meninas.
. O Paco já chegou beijando a Rafaela, claro um beijinho respeitoso pela ocasião, e eu, idiota, com aquele frio intenso na barriga, não sabia se beijava ou não.
. Rolou um selinho, breve, mas devido também à ocasião, ficou despercebida a minha idiotice e timidez.
. - Que bom que vieram – disse a Alessandra – muito legal da parte de vocês.
. - Não importa quanto conhecemos as pessoas, e sim qual intensidade gostamos delas – disse Paco, e vou dizer a verdade, olhei para ele com a cara mais estranha a possível por ter ouvido isso e pensei: “Falso como nota de 30 reais”.
. - Vamos lá falar com a Paula, Paco? – saí do canto da sala e puxei o Paco, senão acho que ele não iria lá.
. Chegando próximo da Paula, dei um abraço nela e fiz a única pergunta que qualquer idiota faria, quando um ente querido de alguém morre e esse alguém está chorando demais:
. - Oi Paula, tudo bem?
. Por que fui falar isso? Meu Deus, tanta coisa pra falar, tipo um simples “Meus pêsames”, mas não, o pai da menina parecendo um presunto no caixão e eu pergunto se ela está bem. Ela me abraçou e desbaratinou de chorar:
. - Por que ele, Don? Por quê?
. - Não, calma, Paula, ele está num lugar melhor que esse. Se conforte! Ele foi um grande homem! – tive que confortar a menina, mesmo desconhecendo o pai dela e mal sabendo que o cara foi um dos mais calhordas advogados que já existiu, e todos aqueles políticos que estavam ali, deviam as cuecas para o cara, pois livrou-os dos mais escandalosos escândalos. Mas tudo bem, era um grande homem. Grande, e rico!
. - Quando tudo isso acabar, a gente dá uma volta para você arejar a cabeça, tá? – disse Paco com um jeito carinhoso que eu fiquei surpreso.
. - Tá bom, disse Paula soluçando, marquem com as meninas, preciso me distrair mesmo.
Deixamos ela com os parentes e fomos falar com as meninas.
. - Meninos, disse a Rafa, vamos sair um pouco, comer alguma coisa, o enterro é só amanhã cedo mesmo, não adianta ficarmos aqui. Ainda nem é meia-noite.
. - Ok, concordamos juntos.
. - Eu vou para a minha casa, estou sem clima hoje, disse a Alê, mas saiam de casais, eu iria sobrar mesmo!
. - Tudo bem, quer carona? – disse eu com minha costumeira gentileza e, é óbvio, não querendo dar carona, porque quanto mais cedo estivéssemos os quatro apenas, mais cedo agarraria a Fabí.
. - Valeu, Donatto, estou de carro hoje! Bom divertimento!
. - Tchau! – todos saímos do velório e fomos a um barzinho, ali perto, que a Rafa indicou. O lugar era bem legal, mesmo que tocasse samba, e mesmo que eu não gostasse de samba. Mas o lugar era muito bom.
. Passamos uma noite agradável, mas claro, umas 3 e meia da madrugada, já era hora de ir embora, afinal as meninas encarariam um enterro “super animado” no outro dia. Já me sentia bem com a Fabíola, e claro, isso preocupava meu primo, que não queria de jeito nenhum perder a minha companhia, mesmo ele tendo a dele.
. As meninas foram ao banheiro, antes de irmos embora, lógico que, como toda mulher, já era a oitava vez que iam ao banheiro, juntas, a ponto de desconfiarmos de alguma diarréia em vista! Paco aproveitou a deixa e falou:
. - Don, sei que a Fabi é gatinha, simpática e tudo o mais, mas não se apega! Você tem mais uns 20 dias de férias não é?
. - Sim, tenho, mas ela é legal! Estou curtindo...
. - Segunda noite, cara, segunda noite com ela! Para com isso, Donatto!
. - Mas não vou arrumar outra, e peguei bem com ela!
. - Você consegue outra, e continua com ela! E continuamos a sair!
. Percebi no rosto dele um ar de preocupação, talvez estivesse com medo realmente de perder o companheiro de balada.
. Fomos embora. Quando fui me dirigindo ao quarto onde estava dormindo, pensei que era muito estranho o Paco estar saindo comigo, até porque sempre achei que ele tivesse um arsenal de amigos ao redor do mundo.
. No outro dia, acordei mais cedo, tinha que ir em casa pegar mais roupa para ficar na casa da minha avó... Eles quase imploraram de joelhos para que eu passasse as férias todas lá, o que pra mim era ótimo também, não iria dar certo, por maior que fosse o meu esforço, cozinhar sozinho em casa. Afinal, ninguém aguenta miojo empapado com salsicha todo dia! Minha incapacidade na cozinha chegava ao ponto de queimar lasanha para microondas pré assada, ou até mesmo ser incapaz de usar um abridor de latas!

. Sentei à mesa do café, o Paco ainda dormia. Minha avó sentou e começou a conversar comigo.
. - Donatto, o que está achando de seu primo?
. - Vó, eu ia te perguntar mesmo. Ele está tão estranho, tão...
. - Legal? – interrompeu minha avó, como se estivesse descoberto o que eu iria dizer.
. - É, vó, está diferente, e os amigos dele?
. - Que amigos? Ele sempre foi sozinho, quando saía assim, como vocês estão fazendo, ele sempre ia sozinho e se arranjava por lá.
. - Que triste... Mas vó, eu lembro que ele tinha uns amigos, quando eu vinha aqui.
. - Não tinha amigos, querido, eram alguns baladeiros que ele encontrava na noite. O Paco sofreu muito nessa vida, não conseguiu se firmar em nenhuma escola, então não fez nenhuma amizade. Aqui na rua, nossa vizinhança sempre foi muito velha e desconfiada, então ele não tinha amigos nem na rua.
. - Tinha outra impressão dele, vó, sempre o senti forte, convicto, cheio de si e principalmente independente.
. - Vou te contar então, Donatto, tudo sobre o Paco, aquelas histórias que quando você é pequeno não sabia ou não podia saber, agora você pode.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Frustração de Retorno

Estou tentando faz dias postar o capítulo o novo capitulo da saga de Donatto Leão, mas hoje, quando meu ímpeto falou mais alto que falta de tempo, preguiça e outras barreiras, me certifiquei com grande tristeza que a "atualização mais atual" do livro está no outro computador... e hoje mais tarde não conseguirei tempo para postar... quem sabe depois da meia-noite? Não durmo mesmo... hehehe

Peço desculpas de novo pelo sumiço, e espero que ainda tenham almas vivas (e também mortas) frequentando aqui, porque pretendo ser mais assíduo, como fui em 2008, como não fui em 2009... como serei em 2010!

Um grande e amarelo abraço, mais amarelo que grande!
Daniel o/

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Go Back

Estou voltando com mais histórias, ou coisas escritas, afinal fiquei um bom tempo sumido!
Pelo menos estou mais perto de ser engenheiro, né? hehehehe

E férias é dose, a gente não para em casa... daí não escreve também!

Já já eu posto, mas garanto que voltei!