terça-feira, 23 de setembro de 2008

Feitos Malfeitos de Homens Direitos - O Esquadrão da Morte

À partir de Setembro, uma vez por mês colocarei um tópico deste "tema", se é que podemos chamar assim, Feitos Malfeitos de Homens Direitos, um compilado de histórias reais, que foram confiadas a mim, contadas aqui com nomes fictícios para não ser comprometedor e não ser necessário a cobrança de cachê! Rsrs.
Será descrito geralmente em primeira pessoa, assim podemos ficar um pouco mais "dentro" das histórias, imaginando como a própria pessoa deve ter se sentido no fato ocorrido.


"O Esquadrão da Morte."

"Todas as férias, ou sempre quando podíamos, minha esposa e eu íamos visitar o seu tio, Alberto, um taxista português que se aventurava nas ruas do Rio de Janeiro.
Alberto, era um grande homem, conhecedor de todas as ruas e vielas da Cidade Maravilhosa.
O melhor de visitá-lo era isso: além de estadia gratuita no Rio, tínhamos passeios ótimos com guia turístico próprio!

Pelo menos toda década de 70 fomos ao Rio visitá-lo, mas no começo foi difícil: o tio de minha esposa morava próximo ao morro da mangueira.


Certo dia, como de costume, me perdi e fui parar próximo a um bando de garotos mal-encarados. Nunca tive medo de nada, confesso, tanto é que tive a cara de pau de pedir informação aos moleques e cheguei à casa do Tio Alberto.


Alguns dias depois, fomos ao Pão de Açúcar. Naquela época, a estrada de terra, em pista dupla, tinha no máximo 3m de largura, e eu, teimoso abafando com meu fusquinha, me aventurei.
Na volta, bem, tivemos um probleminha, mas consegui chegar ao solo, e com vida!


Quando chegamos em casa que comecei a perceber: o tio Alberto tinha muitos amigos da polícia militar, era estranho, já que ele sequer havia apresentado esses rapazes para a gente, e eles geralmente íam fardados, estavam de serviço ali.

Essa cena foi se repetindo várias vezes, até que certo dia, eu não sou bobo, ouvi o finalzinho da conversa que se desenrolava entre eles. O tio Alberto e os PM's estavam combinando horário, para mais tarde. "Deve ser uma trucada", pensei, mas ainda assim achei estranho.

Voltamos para São Paulo, e uns 4 meses depois retornamos ao Rio, e a mesma cena se repetia de vez em quando: uns 3 ou 4 pm's na casa do Tio Alberto, pelo menos uma vez por semana. Até que um dia não me aguentei e perguntei:
- Sr. Alberto, o que tanto esses policiais vêm na sua casa?
O Tio Alberto, um pouco sem reação, gaguejou no início mas depois me contou, longe de minha esposa:
- Então, mais cedo ou mais tarde você iria descobrir, mas não conte para ninguém: faço uns serviços-extra para a polícia, sou bem pago para isso.
- Posso saber o que é?
- Faço o transporte do Esquadrão da Morte, um grupo de policiais que fazem "queima de arquivo" com alguns bandidos. Eles levam os malandros algemados para longe, tiram do meu carro, apagam os malandros, colocam no porta-malas e depois eles dão sumiço no corpo.

Fiquei certo tempo em silêncio, um pouco surpreso ainda tentando assimilar o que tinha ouvido. Como um homem certo, simpático fazia um serviço daqueles? Para ganhar um trocado a mais? Claro, se ele não fizesse outro fazia, mas se algum dos bandidos descobrisse que ele fazia parte deste bando de "justiceiros"?

Depois dessa viagem, nunca mais voltei para lá. Ele bem que insistia, mas não queria arriscar a minha vida, sequer a de minha querida esposa.
Anos mais tarde, minha esposa quase foi sozinha, pois não entendia o por quê de não ir. Tive que contar para ela, que em choque, assistindo na TV naquela semana, ficou sabendo que o Esquadrão da Morte tinha matado 12 malandros em apenas 1 dia... imaginem se eu tivesse voltado?

O Tio Alberto, depois dessa chacina abandonou a "hora-extra". Ele faleceu um tempo depois, e que bom que não teve nada a ver com esse "serviço extra", foi morte natural.


Um comentário:

Pudim disse...

Pois é, nem sempre as pessoas são o que parecem ou fazem exatamente como aquilo em que acreditam.

Interessante idéia, vou tentar arrumar algumas histórias para você.