quarta-feira, 18 de maio de 2011

Reclamar

Reclamar:

"V.t. Pedir com insistência uma coisa devida ou justa: reclamar o prometido.
Implorar: reclamar assistência.
Exigir, ter necessidade de: a cultura do algodão reclama cuidados especiais.
V.i. Protestar: reclamem, que a Prefeitura providencia. (Sin.: exigir, requerer, reivindicar.)"

Isso é o que o dicionário diz.
Tem gente que reclama conforme o dicionário mostra.
Tem gente que não reclama.
Tem gente que reclama de quase tudo.
Tem gente que reclama de tudo. Gente como eu.
Ou era como eu.

Eu reclamava da vida e da morte;
Reclamava do dia quente ensolarado e do dia frio chuvoso;
Reclamava de ter que acordar cedo para trabalhar e de não ter o que fazer em dias de domingo;
Reclamava de ter que estudar e reclamava de não ter o que fazer em Janeiro.

Deixei de reclamar...

Depois de ficar 14h no Pronto Socorro, acompanhando meu avô (mentor, pai, avô, amigo dentre outros bons adjetivos), a conclusão que se chega é que o fato de reclamar de tudo, coisas ínfimas, como sempre reclamei, por um lado, como grande parte do que eu reclamo é graça e me faz rir "myself" (merda não ter myself em português, do jeito que só quem sabe inglês sabe do que estou falando!), o grande fato é que eu não quero mais reclamar quando tem tanta gente vivendo sozinha, dependendo da boa vontade do governo.

Eu só vou reclamar se eu não conseguir mudar o mundo. É por isso que estou em fuga de notícias ruins, porque meu sentimento é de querer ajudar quem precisa, e eu sei que não dá pra abraçar o mundo sozinho, mas que 7 bilhões de mãos dadas, ah sim, podemos dar umas boas 5 ou 6 voltas em torno da terra, mas isso é chute, preciso calcular certinho.

Essas 14 horas no Pronto Socorro vão render com certeza uma "série" a la Donatto, ou um livro, vou escrever, pois eu quero esquecer, mas quero me lembrar de tudo quando der saudade. E dá saudade daquele pessoal. Aquele sentimento ruim de nunca mais ver os "amigos" feitos, nas piores situações, e ainda sobra um ou outro sorriso, dois ou outros três palavrões, cinco ou seis pessoas com fé, muita fé.

Para resumir motivo-mor de minha auto-reflexão:
- Conheci um simples criador de gado, de Cunha, 72 anos, com crise de rins. Detalhe: mora sozinho, a filha que mora em Guaratinguetá talvez nem soubesse que ele estava lá em observação. Detalhe principal e emocionante: o irmão desse senhorzinho, de 84 anos, estava lá, de acompanhante dele, dia e noite, noite e dia.
- Conheci um cozinheiro, atropelado quando andava de bicicleta, indo trabalhar no emprego que havia conseguido há 1 mês. Ex drogado, conseguiu arrumar um patrão excelente, que além de ajudá-lo a se livrar das drogas, arrumou uma oportunidade. tinha 6 filhos, 2 com cada mulher.
- Um rapaz, vestido de trapos, que estava há 3 dias sem comer na observação, e alguns enfermeiros que passavam do lado com pão, queijo e cafezinho, nem migalhas arrumavam para o pobre rapaz, que aguardava resultado de seu exame no coração. A desculpa é que pronto atendimento não rola refeição...
- Pra fechar com chave de ouro, conversei por alguns minutos com um coroa, em torno de 50 anos, que teve um enfarto na minha frente. E morreu.
- Para entristecer qualquer um, ver um senhor de mais ou menos 75 anos chorando no corredor do hospital, sozinho, sem ninguém para acompanhá-lo, é de partir o coração em 334.567 partes. Não HÁ DESCRIÇÃO PARA ISSO!

Meu avô está bem, para constar, e isso foi há 15 dias, mas as sequelas psicológicas ainda perduram em minha cabeça... Ele melhorou indo pra lá, eu piorei... vai entender?

Eu sou um só, eu não posso fazer nada, e os enfermeiros e médicos não podem se apegar tanto, eu entendo que deve-se ter o mínimo de humanidade, mas imaginem só o sofrimento de se apegar aos pacientes e vê-los, pouco a pouco, partindo? Isso foram só 14 horas minhas lá dentro.
Prometo publicar na íntegra.

Sugiro uma ONG, que tal um grupo de pessoas que tenham sangue frio para acompanhar pessoas abandonadas nos pronto atendimentos e CTI's? Tem tanta gente sozinha no mundo, sem ajuda, sem um apoio nas horas difíceis... Eu não quero isso pra mim, e não desejo pra ninguém.

Não vou reclamar mesmo, de mais nada que não seja muito, mas muito relevante!

Estou livre.

2 comentários:

Pudim disse...

Você acabou de mudar a si mesmo e, com isso, vai perceber que o mundo muda a sua volta.

Perdoe-me se eu não vier a ler o relato completo de suas experiências no pronto socorro. Não duvido do impacto que lhe tenha sido, nem da validade de nenhuma das histórias. Apenas me privo, como você, de notícias tristes e ruins, em qualquer forma que venham.

Mensageiro disse...

É bom saber q cada vez mais irmãos tem encontrado a tão sonhada luz de algumas mentes inquietas.
Entretanto, é bom lembrarmos-nos que, isso tudo é só uma pequena passagem, e apesar de parecer, há ainda um caminho muito melhor do que o que a nossa infima mente consegue enxergar...
Acredite amigo, o que vivemos aqui, por mais doloroso que possa parecer, há ainda coisas bem piores, e outras infinitesimalmemnte melhores, felizmente.
E mais felizmente ainda, estamos no caminho, por estranho q pareça-nos