quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Cama da Fama

Pessoal, está aí!
Conforme o prometido, mais uma história daquele "livro" que eu fiz mas não mostrei... essa é longa, e não deu pra resumir! Abraços!!!

"- Obrigado! Obrigado! Boa noite, bom apetite a todos!

E o músico se levanta de mais uma jornada naquele pub. Ele adorava tocar naquele lugar, o dono era um adorável coroa e pagava muito bem!
Claro, o muito bem para os dias de hoje, pois para quem já foi um dia um famoso líder de banda, R$ 2.000,00 pela noite tocada, das 23h às 2h da madrugada, enfim, era realmente pouco para uma realidade anterior, mas para os dias atuais, digamos, para os 10 anos atuais, esse valor era muito bom! Aliás, o melhor pago para músicos como ele, tocando sempre em versões acústicas, com um violão, uma caixa de som e nada mais, de vez em quando um convidado, mas de vez em quando mesmo!

Este músico, bem, prefiro chamá-lo de J.G., as iniciais de seu nome, em respeito ao grande astro que ele já foi um dia. Um exímio baixista e uma voz que emociona junto aos agudos das guitarras, fazia dele um monstro do rock. Líder da extinta banda T.N. (aqui também deixarei somente as iniciais da banda), há 10 anos entrou em esquecimento.

Há mais ou menos 20 anos atrás, cinco garotos de 18 a 22 anos começaram a tocar rock no cenário underground, no interior de São Paulo. No começo, tocavam covers básicos de bandas iniciantes: Raul Seixas, Rolling Stones, The Beatles, Barão Vermelho, Ultrage a Rigor, Paralamas do Sucesso entre outras bandas “clássicas” do cenário nacional e mundial.
Devido a qualidade em que eles interpretavam estas bandas, os pequenos shows underground deram espaço a pequenas apresentações em festas das cidades vizinhas, até que resolveram fechar contrato com um empresário, o J.B.X., funcionário de uma grande gravadora, que estava à procura de alguma banda dos anos 90 que reerguesse o grande cenário Rock das épocas de “Não à Ditadura”, “Tropicália” e “Diretas Já”, cenários que motivaram os músicos a desenvolver mais ainda a arte de escrever.

J.G., além de excelente músico, era também um compositor de primeira! Tudo que a Gravadora precisava!

Então os 5 moleques, sem pretensão nenhuma, iniciaram uma carreira meteórica: Faustão, Gugu, Jô Soares 11 e Meia, Planeta Xuxa, EUA, Europa, Japão (fanáticos por Rock’n’roll), e assim seguiram durante sua trajetória breve, 8 anos de carreira e como surgiu, acabou. Mas não acabou do nada, não!

No segundo ano da banda, por problemas de drogas e álcool, o guitarrista-base da banda se afasta por 3 meses, na turnê do segundo CD, que teve um recorde de vendas, prêmios na Europa e quase 40 shows por mês. Contrataram um guitarrista da Gravadora, para acompanhar a banda nos shows. Três meses depois, o guitarrista, B.M., retorna à banda, alegando para a imprensa que estava com “Problemas de saúde”.

J.G., como sempre, grande líder da banda, amenizava a situação, ou melhor, as situações que aconteciam.
Festas regadas a whisky 12 anos, bala, doce, pó e erva. No final da noite, polícia, advogados, pais chorando, namoradas desesperadas, e sempre JG para amenizar. Não que ele não fizesse parte da baderna, mas era sempre o que explicava.

O tempo foi passando, a banda fez vários tours pelo exterior, shows todos os dias pelo país, gravação de Acústico com a Mtv, mas aqueles garotos que quando começaram a fazer sucesso eram ingênuos, se tornaram gananciosos, drogados, e o sucesso corrompeu quase tudo que tinha de bom neles. J.G. menos, ele ainda tinha que sempre dar o parecer, e falar que “nada era como aparentava ser”.


No quarto ano da banda, uma pequena discussão, envolvendo os outros quatro músicos, que alegavam que J.G. era muito egoísta, e que só ele queria escrever. Acharam que ele estava ganhando mais do que o resto, e que ele poderia se tornar algo que foi o Cazuza: O Barão Vermelho não era Barão Vermelho, era Cazuza e Barão Vermelho. E por mais que J.G. dissesse que não, eles quiseram acabar com a banda, até que aquele famoso "Cala a boca" do empresário melhorou. Como assim cala a boca? Um aumento salarial, ou para aquelas "crianças crescidas", mais bebida nos camarins, mulheres no final dos shows e coisa do tipo.
Gente de cabeça pequena se contenta com coisas pequenas.

No final dessa longa história, cheia de altos e baixos, eles sobreviveram oito anos, até o anúncio do fim, com aquela desculpa básica das bandas: desencontro de idéias, de estilos e saudades da família.

Dos cinco músicos, cada um teve um destino:
O baterista, O.S., virou ator pornô. Sim, isso está na moda e dá dinheiro, para quem não liga em se expor (ao ridículo), mas como tem muita gente que gosta, fala que é arte... Não deixa de ser! Mas entenda o ridículo sendo a pessoa, que já fez fama, utilizar essa "arte" como último recurso "fácil e rentável". Apareceu depois umas quatro vezes no Superpop.
O guitarrista-base, de tanto se drogar ficou louco, meteu logo "um três-oitão" no meio da testa, e suas últimas palavras foram "Liga não que tá sem bala".
O guitarrista-solo, conseguiu contrato com uma gravadora e hoje é músico de uma banda de forró maranhense. Não é a praia dele, mas ganha bem para se vestir estilo "lambada" e tocar "dois pra lá e dois pra cá". E o cabelinho comprido continua, mas agora ele faz chapinha!
O tecladista assumiu a homosexualidade, apareceu em alguns programas no Superpop, depois sumiu, mas pelo menos antes de sumir disse que "Valeu a pena ser do T.N., e se arrepende das bobeiras que fez, daria tudo para voltar atrás, pedir perdão ao J.G. e os outros e aquele blá blá blá".

E o J.G.?

De todos é o mais feliz, ou o único que é feliz.
Ganha pouco mas ganha.
Não se sentiu humilhado pela nova vida, deu valor à mulher que não o abandonou, quando até mesmo a família não queria mais vê-lo, por tudo que ele tinha se tornado; bebidas, mulheres, drogas, rebeldia...
Ainda compõe, escreve algumas tiras para os jornais da região onde mora.
Foi convidado a fazer tudo que os outros quatro fizeram, inclusive meter uma bala na testa e virar gay, mas não quis.

A sua vida, não era ser famoso, era tocar. É tocar!

Feliz de quem o vê em algum barzinho tocando. Se der sorte de encontrá-lo, ao invés de ficar de fofoca na mesa, pare e ouça o que ele tem para cantar! E aplauda muito no final"

2 comentários:

Josy Poulain disse...

Obrigada moço...
Sorte a minha.

Queria também tocar pelo mundo e esquecer o peso das coisas.

Sigamos...

Ah, gosto do título do blog. Opinião amarela. rs

Pudim disse...

Como sempre, uma obra prima. E difícil não se afeiçoar ao J.G., que na minha cabeça já virou João.

Parabéns.