quinta-feira, 2 de julho de 2009

A Biocomplexografia de Donatto Leão - Parte 4

Pessoal, desculpa a demora, semana difícil: provas, provas, gripe, rinite, provas etc.!

Espero que esteja à altura dos leitores! XD
Abração beeeem amarelo.

Capítulo 4 – Recomeço.

. Toda história romântica tem um recomeço, toda novela tem casamentos no final, e o mocinho casa com a mocinha.
. No meu caso, o recomeço foi solteiro, após três tentativas frustradas de suicídio, uma crise incessante de riso (que eu já desconfiava ser risada de desespero, não de felicidade), com uma casa cheia de móveis novos, mas vazia de pessoas.
. Resolvi não me mudar, guardei todos meus móveis novos que não utilizaria no momento em um quartinho da casa de meus pais e voltei para lá. Ou melhor, nem saí.
. Não queria recomeçar tudo sozinho, mudar minha rotina apenas para sentir como seria se eu fosse só. Não era o momento, até porque como que uma pessoa sozinha, que trabalha praticamente o dia todo teria tempo para: fazer comida, lavar a roupa, limpar a casa, alimentar o cachorro e ainda sobrar tempo para um pouco de Resident Evil no videogame?
. Então pedi carinhosamente que meus pais entendessem que aquele papo de estar de partida nada mais foi que uma suposta vontade de me casar e viver feliz para sempre. Mas nada me impediu de ser feliz para sempre, nem de me casar.
. Uma semana depois da frustrada autotentativa de mandar me matar, o burro do Cuspinha me ligou, e bandido por mais chulé que seja é uma desgraça. Eles têm a capacidade de nos encontrar e torrar nossa paciência. Não sei como ele encontrou o número do meu celular, até porque eu ligava pra ele de um telefone público...
. - Aqui é o Cuspinha, malandro! Tu tentou armar cilada pra mim, “bródi”? Só que eu sou ligeiro! Sorte aí que não vou te cobrar um tostão da grana que pedi, mas merecia!
. - Meu filho, se você é burro, problema seu! – respondi num tom irônico que intitulei “Irônicus 1”, o qual nunca tinha experimentado na vida – Eu te contratei para me matar, será que era tão difícil fazer isso?
. - Tu é maluco, “mermão”? Nem eu que sou um bosta, não tenho nada, faço “as merda” que faço pra poder comer, ô otário! Se matar pra quê? Esse bando de filhinho de papai que tem tudo fica fazendo isso mesmo.
. - O que você tem a ver com isso, mané? – respondi com maior rigor na voz que pude.
. - Eu? Tenho sim, você acha que sou besta. Se te matasse, como você ia me pagar?
. - Não tinha pensado nisso...
. Neste momento, o Cuspinha desligou o telefone. Acho que ficou inconformado com o golpe que eu daria nele, que mesmo sem pensar eu faria.
. Mas essa ligação, por incrível que pareça, mudou minha vida. Sem querer, o Cuspinha serviu como um SOS Samaritanos, porque a frase em que ele disse achar engraçado nós, “filhinhos de papai”, que inclusive nunca fui, mas tive sim mais oportunidades do que o Cuspinha, e mesmo assim, ele repudiou o meu desejo de suicídio.
. Não preciso dizer o quanto aquilo me tocou, não é? E resolvi, mais do que nunca, mudar a minha vida, meus hábitos, e largar a mão de ficar tentando zerar o Resident Evil setenta e duas vezes para ver se dava algum bônus de fase extra.

***

. Já era Setembro de 2010, uns 6 meses depois de ficar solteiro, estava apenas trabalhando e me preparando para um mestrado no ano seguinte. Resolvi tirar o resto do ano apenas para descansar. Os últimos 26 anos de minha vida tinham sido duros.
. Pode parecer coisa de afeminado, mas como sentia falta do meu amigo Luciano! Essa época iríamos nos divertir muito. E o coitado, acho eu, nem namorada teve antes de morrer. E depois que morreu, bem acho que não teve, a não ser que tenham mudado as coisas após a morte...
. Meus pais foram viajar para o nordeste, e numa tentativa incansável de me ver feliz, me convidaram para ir junto, afinal todos meus irmãos também iam.
. - Vamos, Donatto, vai ser legal um passeio em família! Faz tempo que não viajamos todos juntos... – disse minha mãe, com uma voz aveludada que só mesmo a Dona Mariana tem!
. Apenas para constar, a última viagem em família foi muito "divertida": fomos ao parque de diversões. Acho que tinha uns 18 ou 19 anos.
. O passeio de sorte começou logo cedo. Tínhamos comprado o pacote de 6 ingressos pela Internet, mas na hora que chegamos lá, o sistema on-line do parque de diversões estava sem sinal, ou seja, não tinha como confirmar o pagamento feito pelo meu pai. A mocoronga da atendente disse que iria ressarcir o valor pago após o retorno do sistema, mas, bem, acho que até hoje meu pai recebeu esta verba; ele até deixou o endereço, telefone e e-mail com a atendente, mas a única coisa que eles deram com isso foi dor de cabeça! Porque enviavam a cada 2 semanas folhetos do parque, mandavam aqueles spams nojentamente enormes que lotavam a caixa de e-mail do meu pai (acho que naquela época, a Google não tinha criado ainda o Gmail com espaço liberado na caixa de e-mails).
. Depois que entramos, e o meu pobre pai teve que pagar dobrado a entrada e ainda perdeu o descontão para clientes que fazem a compra on-line, meu irmão mais novo, que naquele ano tinha acho que 5 anos se perdeu, quando estávamos na fila da roda gigante. Ele viu um palhaço vendendo balões de gás hélio e saiu atrás do vendedor.
. Duas horas de desespero depois, ele estava sendo anunciado pela guarda do parque: “Uma criança se perdeu! O nome é...Moleque, qual seu nome?... porra! Pais, quem perdeu alguma criança? Ele não quer me dizer o nome. Favor aparecer aqui na central de achados e perdidos”.
. O Airton sempre foi daquele jeito turrão, desde pequeno. E ele na verdade nem estava preocupado por estar perdido, nem chorando ele estava quando chegamos à salinha de achados e perdidos. E digo mais, se nós fossemos embora e ele ficasse, se tivesse conseguido um balão de hélio, não se importaria em ficar abandonado, até que o balão estourasse ou voasse ao “infinito e além”.
. Pra piorar tudo, minha irmã, Claudinha, 4 anos mais nova que eu, comeu um lanche apetitoso no snack bar e foi logo depois no elevador. Nem preciso dizer que ficaram armazenados no cérebro dela até hoje pedaços de carne de hambúrguer, por causa da gravidade.
. Já era umas 18h, e meus pais, coitados, estavam esgotados. A sorte de meu pai é que eu já tinha carta nessa época, mas no estacionamento eu enrosquei minha perna direita no arame de proteção de um canteiro e torci meu tornozelo. . Só para fechar com chave de ouro.
. Depois dessa viagem emocionante, não viajei mais com eles. Acho que grande responsabilidade foi por estar namorando e somando isso ao trabalho e aos estudos, sem chances de passear.
. Voltando à Setembro de 2010, resolvi não ir dessa vez com eles, mas prometi viajar junto na próxima. Queria um tempo sozinho em casa para testar minha síndrome do pânico. Melhor coisa que fiz.
. Fui levá-los no aeroporto, em São Paulo mesmo, mas resolvi dormir na casa de minha avó, pois já era tarde, e ela morava bem perto de Cumbica, em Guarulhos.
. Cheguei lá umas 22h, mais ou menos, e encontrei meu primo, que morava na Alemanha mas estava de férias por aqui visitando minha avó, se arrumando para sair.
. - Don, quanto tempo! – disse ele, ao me ver – poxa vida, não devo te ver há uns 10 anos!
. Pois é, ele não me via há 10 anos mesmo, e a última vez que vi o Paulo, ou carinhosamente chamado de Paco, ele tinha dado umas 3 porradas na minha cara e falou aos meus pais, quando eu cheguei em casa, que ele me salvou da mão de bandidos, que bateram em mim e roubaram minha carteira (na verdade, ele pegou o dinheiro que tinha na minha carteira para comprar cigarros e cerveja).
. Ele regula mais ou menos de idade comigo, um ano mais velho que eu.
. - Fala Paco, não sei o que é mais milagre: eu ou você estar visitando a vovó.
. - Pois é, resolvi ficar por aqui alguns meses, as coisas na Alemanha não estão nada bem para o meu lado. Não aceitaram a renovação de meu visto por causa de alguns problemas que eles andam tendo com estrangeiros. A minha sorte foi conseguir dispensa do trabalho e certeza de renovação com minha volta.
. - Ah, mas pensa bem, Paco, aqui você pode distrair a cabeça um pouco... vai aonde? – perguntei, ao vê-lo colocando o par de Adidas nos pés.
. - Vou rever uns amigos, marcamos um encontro no Villa Hall Café, está afim de ir? – e antes que eu conseguisse responder algo, ele emendou – Ah, vai dizer que você continua aquele bicho do mato, que só pensa em videogame.
. - Pois é – respondi meio envergonhado – mas aos poucos estou abandonando essas manias.
. - Você não é cheio de manias, só não tem a companhia certa. Vá, se ajeita, vem comigo!
. - Não dá, cara, eu nem trouxe roupa para sair, e como você já disse, sou bicho do mato. Não bebo, não fumo e não sou muito chegado em som alto.
. - Larga de desculpa! Roupa, pode ficar tranqüilo. Eu trouxe meu arsenal junto comigo. Vai se trocar, se você não se divertir, nunca mais te chamo para sair, mas com certeza você vai se viciar com a vida noturna. Se prepare!
. - Mas e a vó...
. - A vó só acorda amanhã cedo, cara! Vamos, por favor, faz tempo que não ando por estas ruas de São Paulo, quero chegar lá pelo menos com alguém conhecido!
. Me vi sem opção, minha avó já estava dormindo, então não tive a desculpa de esperá-la acordar, até porque de qualquer forma teria que esperar até amanhecer. . Mas a diferença era que, ao invés de esperá-la dormindo iria esperá-la acordado. Realmente o que tinha dito a ele era a mais pura verdade. Mesmo em meus anos de namoro com a Fátima, poucas as vezes foram a que saímos para esse tipo de lugar, baladas, bebidas e cia não faziam parte da minha vida, mesmo que ela gostasse disso.
. Me arrumei, aliás como nunca tinha me arrumado. O Paco só tinha roupas de marca, perfumes caríssimos, que, é claro, como tudo foi comprado “próximo a fonte”, na Europa, tudo foi mais barato, mas mesmo assim, era tudo muito diferente de meu estilo: camiseta estampada, calça jeans e tênis Puma.
. - Vamos ver no que vai dar... – pensei comigo mesmo.




TO BE CONTINUED...

2 comentários:

Pudim disse...

Agora estou apreensivo. Esse Paco não traz coisa boa...

Que o Donatto se cuide na night paulista!

Josy Poulain disse...

Adoro ler os longos textos amarelos...

Um abraço amarelo e espero a continuação...